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- Trabalhos de pesquisa nas diversas áreas das ciências humanas e outras.

27 de jun. de 2012

A HISTÓRIA E O SOFRIMENTO




JÓ E A SAGA DO SOFRIMENTO


     O interesse pela discussão sobre o sofrimento no livro de Jó, parte do princípio de querer tentar demonstrar que o sofrimento não é coisa de outro mundo, mas uma condição histórica do homem histórico, e que tem sempre o objetivo, historicamente, de criar novas condições de existência.

     Tudo que se modifica e que é modificado, não se modifica e não é modificado para nada e sim para ser feito outra coisa - deformar para ser outra coisa. A condição material, e porque não dizer histórica, pressupõe sempre mudança, e quando se fala em mudança não se pode deixar escapar a condição de não ser para se fazer ser outra coisa.

     Levando em consideração a existência histórica do homem histórico, o problema do sofrimento se torna interessante na intenção de se discutir, investigar e tentar trazer nova compreensão sobre questões teológicas, filosóficas e sociais que partem do pressuposto do sofrimento.

     A proposta desta pesquisa é buscar  no livro de Jó, auxiliado por uma bibliografia, a fundamentação do problema do sofrimento . Com isto, é intenção trazer para discussão novas perspectivas sobre a compreensão do sofrimento. Investigar em que consiste essa existência, bem como, entender a condição de necessidade ou não. Levar em consideração o homem histórico e sua condição relacional histórica.

     Deseja-se nesta proposta trazer para o debate uma nova concepção de vida, uma condição de existência cuja intenção é proporcionar a todos interessados, nova discussão teológica, filosófica e social relacionada ao sofrimento.

O LIVRO DE JÓ

     O autor do livro de Jó é desconhecido. A sua identidade ainda é uma incógnita no Antigo Testamento. Este livro leva o leitor até a terra de Uz, como narra o capítulo 1, v.1: “Havia um homem na terra de Uz, que tinha o nome de Jó...” Uz estava situada na Iduméia antiga, na Arábia setentrional de nossa época, ao sul da Palestina, a leste do golfo de Akabá, Mar Vermelho. A história do livro de Jó situa a época dos patriarcas bíblicos no século XIX a XVII a. C.

     Jó, além de pai de uma família, era sacerdote, o que se comprova quando oferece sacrifício pelos filhos em expiação pelos seus pecados. Registro feito no capítulo 1, v.5: “Terminados os dias de seus banquetes, Jó os chamava e os santificava. Levantando-se de madrugada, oferecia sacrifícios...” Dentre os filhos do oriente, com os quais Jó foi comparado, ele é considerando o maior. Esta citação está no capítulo 1, v. 3: “...este homem era maior do que todos os do Oriente.” Este povo do oriente era os Arameus ou os Árabes. Terra onde morava Labão, irmão de Rebeca, mulher de Isaque. Registro feito em Genesis capítulo 28, vs  2, 3 e 5: “Levanta-te vai a Padã-Arã, a casa de Betuel, pai de tua mãe, e toma lá por esposa uma das filhas de Labão, irmão de tua mãe. Assim, despediu Isaque a Jacó, que se foi a Padã-Arã, à casa de Labão, filho de Betuel, o arameu, irmão de Rebeca, mãe de Jacó e de Esaú.” Neste lugar estava Jó, homem fiel aos seus deveres, homem religioso e prósper. O livro de Ezequiel assegura a existência de um antigo patriarca não-israelita chamado Jó. Capítulo 14, 14 e 20: ”...ainda que estivessem no meio dela estes três homens: Noé, Daniel e Jó...””Ainda que Noé, Daniel e Jó estivessem no meio dela...”

     O estilo do livro de Jó se dá em um quadro poético de caráter campestre, ou idílico, da felicidade, na visão oriental. Ele não se assemelha a nenhum outro livro da Bíblia. A narrativa original é contada em prosa, em Prólogo e em Epílogo.

     O conteúdo do livro revela um debate entre Jó e os três amigos, culminado com intensa disputa ente Jó e seus amigos e a resistência de Deus aos amigos de Jó. O autor do livro torna-se audacioso e original quando na narrativa procura demonstração o pensamento religioso e os conflitos vindo dele; é um mestre na literatura. O autor mostra conhecimento da herança intelectual do seu tempo como da vida no deserto, desafiando a crença da tradição. A preocupação do livro de Jó está no sofrimento do justo. Por que o justo sofre? Jô é o personagem principal do livro. Ele é descrito como o homem perfeito. O livro mostra a condição ética de Jó e o temor existente na relação com Deus, o que o leva a desviar-se do mal. O livro de Jó é formado por dois elementos que se associam: a estrutura prosaica, capítulos 1 e 2 e 42, vs. 7 a 17, e o ciclo poético de diálogo que começa no capítulo 3 e termina no capítulo 42, v. 6. Torna-se uma história que se liga a antiga literatura moral israelita. O livro apresenta Jó como um homem justo, um homem que não é israelita. Torna-se um herói popular junto com Noé e Daniel.

     O episódio narrado no livro de Jó consiste no conhecimento da capacidade do justo resistir às provações, não para Deus, mas para o próprio justo, pois, é o sofrimento que leva o homem a submeter-se ao momento da provação. O problema do sofrimento humano, no livro de Jó, torna-se o mais complicado enigma que perturba a mente do homem. Para a tradição judaica, o justo sempre prospera na terra, mas o perverso padece sempre com o mal, se alguém está sendo atacado pelo mal, isto indica que há perversidade.

     O livro de Jó utiliza-se da via dramática para expressar a revelação divina, usando o diálogo e a poesia envolvendo resistência e fidelidade.

     Considerados como homens sábios, Jó e seus amigos expressam-se por parábolas e figuras, no sentido de se fazerem entendidos. Ambos utilizam o diálogo especulativo, interpretando o sofrimento à luz do dogma da justa recompensa. Revela a necessidade de saber sobre a existência ou não de uma ordem moral no mundo. O livro traz uma visão de que aos ricos, ao livre, ao abastado, ao homem feliz pertence a religião, o amor, a misericórdia de Deus e ao pobre, a sua pobreza declarava o seu estado de pecado e perversidade. Enquanto alguns florescem..., o pobre e o leproso eram desprezados, não faziam parte na sociedade religiosa. O enlutado estava debaixo de maldição, sendo considerado imundo e tudo que lhe pertencia.

     A religião não tinha a incumbência de restaurar, mas, sim, de denunciar esse ou aquele, condenando ou absorvendo. A valorização da religião de Israel circundava entorno do não sofrimento e entorno dos prazeres da vida que consistiam na fertilidade humana, do animal e da agricultura. Essa condição de vida era considerada como suprema bênção de Deus. O regozijar-se nestas coisas, segundo a religião israelita, era uma ordem divina. A moralidade estava ligada a vida no solo, na caridade e no produto da lavoura. Não ocorrendo abundância, estaria o homem sendo punido por Deus por conseqüência dos seus pecados. Isto, pelo fato deste não ter nenhuma virtude. Esta visão é percebida no livro de Provérbios capitulo 31, vs 10 e 16: “Mulher virtuosa quem achará? O seu valor excede o de rubis. Examina uma herdade, e adquire-a, plantando uma vinha como o fruto de suas mãos.” As virtudes morais e religiosas não se encontram na pobreza, na mendicância e nem no sofrimento.

     O livro de Jó rompe com esta visão, ele demonstra que a integridade e a proximidade de Deus são valores absolutos em si mesmo, devendo o homem desejá-los intensamente, mais do que a prosperidade. Visão esta confirmada no livro de Salmos capítulo 37, v. 16: “Vale mais o pouco que tem o justo, do que as riquezas de muitos ímpios.” Também observamos esta realidade no Salmo 73, v. 25: “A que tenho eu no céu além de ti? E na terra não há quem eu deseje além de ti.”

     É nesse cenário que surge o livro de Jó, rompendo com a tradição e atacando a piedade praticada vulgarmente. Problematizando a filosofia da religião da época, a filosofia de vida e a cultura que trazia dúvidas quanto aos propósitos de Deus com os homens


BILIOGRAFIA


       Bíblia Sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida. Ed. Revista e
       Corrigida. Imprensa Bíblica Brasileira, 1948
Dicionário de sinônimos e antônimos da língua portuguesa – HOUAISS. Objetiva, RJ 2003

Fundação Nacional de Material Escolar. Ministério da Educação e Cultura. FENAME 2ª Ed. 1976

SCHOPENHAUER, Arthur. Os pensadores. Tradução de Wolfgang Leo Maar e Maria Lúcia Mello e Oliveira Cacciola. 5ª ed., Nova Cultural, 1991.

NIETZSCHE, Friedrich. Os pensadores. Tradução de Rubens Rodrigues Torres Filho, 5ª ed., Nova Cultural, 1991.

Autor: NASCIMENTO F

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